ORDEM DE SANTA EULÁLIA
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MUI ANTIGA E NOBRE ORDEM DINÁSTICA DE SANTA EULÁLIA DE FORNOS
FUNDADA EM 1643
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NOBREZA E SANTIDADE

SE o Prof. Doutor H. D. Cerqueira de Souza
Discurso proferido no aniversário do nascimento de Dona Leonor Mateus,
23 de Maio de 2009.


«Germine nobilis Eulalia, mortis et indole nobilior»

«De nobre origem foi Eulália, mas mais nobre foi a sua morte». Os dois primeiros versos do Hino em honra de Santa Eulália, do Peristephanon, introduzem com toda a frontalidade a separação entre a nobreza e a santidade: não é, em face da salvação, a origem que conta, mas o fim. Por muito nobre que fosse a sua origem, sublinha o poeta Prudêncio, muito mais nobre e distinta foi a sua morte. Não é por acaso que celebramos sempre os santos no dia da sua morte e não no dia do seu nascimento. Quando nasceram não eram santos. A santidade veio pelas obras, que eram suas, e não pela herança genética ou patrimonial, das quais foram meros receptores. Alguns autores chegam mesmo a chamar à morte «o dia do nascimento» (dies natalis), porque para o cristão, é pela morte que se nasce. O cristão tem essa vantagem de poder controlar a forma como nasce, de poder preparar e construir o seu nascimento, uma vez que a sua morte não é um fim, mas o começo: é o seu verdadeiro nascimento ou o nascimento para a Verdade. A vida, é mera preparação para o nascimento ou para a Verdade. Por muito nobre que se seja na origem, muito mais nobre e digno se pode, e deve, ser no final. E se a origem é desprovida de mérito, mesmo quando vem carregada de dignidade, o final é sempre luminoso e auriluzente, onde cada um vale pelo que foi e pelo que fez, não aos olhos dos poderosos ou dos seus serviçais, mas diante do Juiz Supremo, o Todo-poderoso e Divino Criador, diante do qual não há falsidade, nem decepção. Quem nasce para o Pai coberto de glória, muito mais digno e distinto se torna, do que aquele que nasce filho de algo, herdeiro de grandeza ou poderio, sem que nada de seu tenha, na morte, para levar consigo. Nasce príncipe, mas morre escravo. Escravo das dívidas que contrair ao longo da sua vida, feita de mentiras e de enganos. O seu verdadeiro nascimento ou o seu nascimento para a Verdade é triste e penoso, e muito mais triste e penoso se torna em face da origem nobre que teve.

Tal como Santa Eulália, muito nobre é a origem desta Ordem Dinástica, mas muito mais nobre e distinto deverá ser o seu fim. Esse fim que nós construímos colectivamente em vida, enriquecendo e dilatando a herança que recebemos dos nossos maiores, perpetuando pela eternidade o seu exemplo, e legando-o às gerações futuras, em quem depositamos a nossa fé e a nossa esperança. Na origem, a Ordem de Santa Eulália, confunde-se com a sua fundadora: Dona Leonor Mateus, matriarca, e matriz genética, de todos os Leonores de Portugal. Vai-se depois construindo ao longo dos séculos com o legado de toda a sua descendência, caracterizado pela prática diária de uma grande devoção e piedade, apoiado num acentuado sentido de justiça e forte humanismo cristão. Curiosamente, essa combinação, releva de um meio algo hostil à prática do Cristianismo: o nordeste transmontano de onde emana e, em particular, a freguesia de Santa Eulália de Fornos, registam, desde tempos mais remotos, uma forte implantação judaica. Foi quase sempre no seio da adversidade, quando não da hostilidade, que mais se sublimou o espírito cristão. Ainda assim, não se exclui a possibilidade de esta ser também uma família de judeus, convertidos, que quisessem demarcar-se relativamente aos seus vizinhos, pela prática diária de um culto autêntico. Seja de uma forma ou de outra, a verdade é que, volvidos que são quase quatro séculos, a herança desta devoção e piedade, permanece viva, na memória e no quotidiano, desta família. Sejam quais forem as contribuições que a investigação histórica ou científica nos traga no futuro, com a descoberta de documentos ou a identificação do ADN Mitocondrial, estes serão sempre secundários ou circunstanciais, em face das obras e do testemunho deixado pelas gerações dos nossos maiores. Porque, o que é essencial e determinante em cada um destes homens e mulheres do passado, não é efectivamente de onde vieram, mas para onde foram: não serão lembrados pelo que receberam, mas pelo muito que deram.»
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